terça-feira, 28 de setembro de 2010

Você foi convidado para a festa da Alessandra?


Lembro ainda como se fosse hoje de um evento que marcou minha infância. Eu ainda era menina, estava na 5ª série e estava na sala de aula com o maior número de alunos populares daquele mesmo ano. Uma das garotas populares era minha melhor amiga - até hoje eu não sei como ambas se suportavam - e lembro quando a Alessandra chegou até ela com um bonito convite convidando-a para seu aniversário. Eu estava junto, mas Alessandra só estava com um convite.

Alessandra não era uma garota popular, muito pelo contrário, era aquela menina chata que acreditava que ficando amiga de pessoas populares poderia ascender, coitada. Certamente se já fosse adulta ia fazer uma análise melhor - ou não - e reparar que eu era amiga de uma garota popular e que isso não ajudava ninguém.

Ela não me convidou e não convidou os outros que estavam na mesma escala popular que eu naquela sala. A verdade é que se a festa não fosse dela, tristemente, também não seria convidada. De qualquer forma, parecia uma festa muito legal e tínhamos acabado de chegar na 5ª série, sentíamos que toda nossa vida estava em mudança, que tínhamos crescido, que não eramos mais "pivetes" e já podíamos finalmente cumprimentar os nossos coleguinhas com beijinhos no rosto.

Para "melhorar", criança sempre quer sair por cima e ser vangloriada por qualquer besteira que fizer - e ouso dizer que não só as crianças! - então durante as 3 semanas que antecederam aquela maldita festa, apenas A FESTA foi o assunto. Alessandra fazia questão de "reconvidar" os populares como um político que comprando votos: "Sábado você vai na minha festa, né? Você tem que ir! Vai ter coxinha, bolo, refrigerante... Ah! Vai ter música! Vamos dançar bastante!"
Acredite, se a decadência ainda não chegou ao pico, veja só o que aconteceu... Cansada de ouvir falar na tal festa, fui cobrar o meu convite à aniversariante! O diálogo permanece até hoje na minha cabeça:

- Alessandra, você trouxe o meu convite?
- Que convite?
- O convite do seu aniversário. Você me convidou mas disse que tinha esquecido o convite, lembra? Minha mãe disse que só me leva com o convite... - Até parece. Minha mãe NUNCA me deixaria fazer o que eu estava fazendo ali!
- Não, não. Eu não me lembro... Eu te convidei?
- Convidou. Até me disse que mora na Av. Flora, lembra? - Sempre soube que ela morava nessa avenida. Sempre a via esperando o ônibus para escola ali.
- Como você sabe onde eu moro?
- Você me disse!
- Não, não disse... Eu não te convidei.

Quando eu fiz aquilo eu soube e senti o que era humilhação. É por isso que disse que minha mãe nunca me deixaria fazer aquilo que fiz, porque minha mãe sempre prezou pelo nosso orgulho e nunca deixaria que eu me humilhasse daquela forma. Talvez também tenha sido nesse momento que eu adquiri o orgulho que tenho hoje - que é muitas vezes tão forte que passa rapidamente de uma virtude para um defeito.

Contei essa história porque ao longo de nossas vidas não seremos convidados para a festa de muitas Alessandras, assim como não vamos convidar várias Alessandras para as nossas festas.
Hoje eu novamente me senti não sendo convidada para uma festa. Não foi uma Alessandra que não me convidou, mas eu me lembrei dessa história que, por mais patética e ridícula que seja, me lembra quem eu já fui, quem sou e me lembra - principalmente - que todos nós fazemos aniversários e um dia será a nossa vez de fazermos os convites.

Quem você vai querer convidar?

4 comentários:

André Pollux disse...

Fantástico. Adorei o texto. Eu não lembro dessa menina, apesar de ter estudado no mesmo corredor. Mas também posso ver ela em vários fatores da minha vida atualmente :)

Rodrigo Turra disse...

É. Também já passei por isso. Mas prefiro lembrar das vezes que não convidei as Alessandras :D

Letícia disse...

Adorei o texto. Gostei de ter encontrado seu blog, muito bom.
Beijoos.

Diego oliveira disse...

muito legal ,voce escreve super bem ... :)